14/04/2023
Como será o consumo no Brasil em 2023?

Além de gastar mais, brasileiros pretendem investir em experiências e produtos que vão além do necessário para o dia-a-dia

 

Brasileiros pretendem fazer mais compras este ano do que em relação a 2022. Esse dado foi obtido pela pesquisa trimestral de Consumo realizada pela fintech Trigg. De acordo com o relatório, 75% das pessoas responderam que pretendem comprar mais em 2023 em relação a 2022, contra 9% que responderam menos e quase 16% que ainda não sabem.

Entre as prioridades de investimento estão: alimentação, educação e saúde. “Basicamente 90% dos brasileiros estão vivendo na base da pirâmide das necessidades, por isso focam nas questões mais imediatistas e relacionadas à segurança e bem estar fisiológicos, infelizmente é um fato ligado diretamente ao IDH do povo, que muitas vezes não conseguem avançar para questões mais complexas, como estima e realização pessoal”, explica Alan Ceppini, CSO do Grupo Alpes e Mestre em Administração e Marketing pela Pontifícia Universidade Católica, sobre a prioridade dos brasileiros.

Viagem, moradia e eletrônicos também são categorias priorizadas pelos entrevistados, e mostram tendência de avanço em 2023. Entretanto, seguro e esportes são os temas menos votados, ou seja, mais preteridos.

O que os brasileiros vão consumir além do básico?

Após a tríade básica: alimentação, educação e saúde, a pesquisa captou a importância de realizar uma viagem. De acordo com a pesquisa “Data Stories: juntos novamente“, da Kantar Ibope Media, divulgada em setembro, as viagens nacionais são a escolha principal para 77% dos turistas, sendo que 59% admitem que “férias de verdade” precisam ter viagem. “Esse dado pode estar relacionado diretamente com a crise global sanitária que vivemos desde 2020, mas também com a queda de poder econômico da moeda brasileira, afinal, hoje ir ao exterior custando 5 a 6 vezes a moeda corrente inviabiliza qualquer viagem para a classe CDE”, esclarece Alan Ceppini.

Outra categoria relevante apontada no relatório da Trigg é a compra de eletrônicos, que vem antes do desejo de adquirir um automóvel. No estudo feito pela MindMiners para a Samsung no Brasil, os produtos eletrônicos foram os primeiros da lista de compras dos brasileiros para a Black Friday 2022. Smartphones e TVs são os produtos de maior interesse, com 45% e 40% das intenções de compra, respectivamente.

“Hoje um smartphone não é apenas um objeto de desejo, o item é, na verdade, dezenas, ou melhor, centenas de produtos/serviços agregados em um único aparelho”, comenta o CSO do Grupo Alpes.

A falta do olhar a longo prazo

Se por um lado, os brasileiros estão programando viajar e comprar eletrônicos em 2023, por outro o planejamento a longo prazo, como a realização de seguros, não está intensamente à vista. A amostra captada pelo relatório trimestral da fintech mostra que 76% dos entrevistados têm entre 25 e 46 anos, com emprego formal (66%). Esses dados mostram que são pessoas que poderiam se organizar para o futuro, mas não o fazem.

Essa questão pode ser cultural, no entanto Allan Ceppini aponta variáveis para isso, que estão relacionados ao baixo poder aquisitivo e a educação.

Preferimos comprar online?

A pesquisa Trigg informou a forma como os brasileiros estão preferindo efetuar compras em lojas online (51,89%). Apesar de o comércio físico estar próximo, observa-se uma virada em como os entrevistados compreendem o virtual nas transações. Esse dado é confirmado com as respostas da questão: “o que chama sua atenção na hora de comprar”. Promoção e qualidade estão entre os primeiros motivos. Já “facilidade na compra e na entrega” é o terceiro item mais observado, seguido de cashback.

O especialista em Marketing aponta como motivo para essa mudança a restrição imposta pela Covid-19. “Informações do Fórum do Varejo, promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (LIDE) em São Paulo, apontou que houve um crescimento exponencial desde 2002 atingindo seu pico em 2020/2021, devido à crise sanitária do Covid-19. Porém, os números estão se ajustando e devemos ter 16% a 18% de brasileiros consumindo pela internet, o que mostra ainda uma força assombrosa na compra física ou presencial, muito ligada ao estilo do povo brasileiro”, relata Alan Ceppini.

Do crediário ao cartão de crédito

O brasileiro tem enraizado no seu DNA a cultura do crediário, principalmente quando ocorreu o boom de lojas de departamento e de varejo no Brasil. “A grande diferença é que com o cartão de crédito houve um avanço tecnológico no modelo de cobrar, no modelo de gerar novas demandas, e principalmente, no modo de olhar o consumidor – não mais como indivíduo, mas, sim, como persona de milhares de nichos –. Assim as marcas conseguem cada vez mais direcionar seus produtos por ferramentas de CRM diretamente através de malas diretas, web, redes sociais, programática, retargeting, a verdadeira corrida frenética do capitalismo sem fim”, complementa o mestre em Marketing.

Principais valores

sustentabilidade é um tema notório entre as marcas, seja como causa ESG ou para intensificar o marketing. Conforme o relatório trimestral da Trigg, o assunto é interessante entre os consumidores brasileiros quando o assunto é a influência do mote nas compras: 32% não pensou sobre isso, 25,87% diz que se influencia, mesmo se o produto for mais caro; 25,45% diz sim se o produto for do mesmo valor; 10,61% diz sim se o produto for mais barato e 5,38% afirma não se influenciar.

Esses dados ratificam que o valor e promoções são valores que mais pesam ao se realizar a compra. Sem embargo, os mesmos entrevistados preferem consumir de pequenos produtores, o que mostra a importância da proximidade e da indicação.

O último ponto que chama a atenção na pesquisa é a prioridade de datas comemorativas para comprar: a primeira é o Dia das Mães, seguida da Páscoa e a terceira do Carnaval. “Entendo que o mercado brasileiro de consumo está em constante evolução, ele já melhorou muito e pode otimizar muito mais, porém tem que começar a tratar o consumidor com mais ‘carinho’ e inteligência, parar de criar promoções como Semana do Consumidor ou Black Friday, que na teoria deveriam ser benéficas para a economia girar, porém na prática aumentam os valores algumas semanas antes para dar descontos inexistentes algum tempo depois”, conclui Alan Ceppini.

Via Consumidor Moderno